sábado, 13 de abril de 2024

Melodia de maré

 

Certas coisas foram feitas pra acabar

Há pessoas que são porto

Há pessoas que são mar


Te quis cais

Mas tu eras travessia

Melodia de maré não se prensa num vinil


Onde já se viu

Querer prender o mar

Querer te acorrentar 

não caberia, não

Não caberá 


Deixa... Deixa a maresia 

Corroer a poesia

Desmanchar meu coração

Quem sabe então...


Certas coisas vão achar o seu lugar

Há pessoas que são porto 

E ao mesmo tempo mar 

Me fiz mar

Desaguei na melodia

A deriva na harmonia de quem tanto já sentiu


Onda já se viu

Querer prender o mar

Querer me acorrentar 

não caberia, não

Não caberá


segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Faxina

Deixar o vazio entrar. Se instalar, ficar a vontade. 

Preparar um café para a ausência que se apresenta. Abraçá-la. Fazer morada em seu peito. Chorar tudo o que não me serve mais. Chorar até desaguar no mar. Virar imensidão. O todo. O nada. De mãos dadas pelos campos ardilosos do acaso. Já estive aqui antes, sei navegar nas suas águas. Também sou água, sabia? Se me perco em teu infinito é pra encontrar-me. Sentir-me mais eu. De novo infinito. De novo impossível, irrefreável. 

Não se pode guardar o mar na térmica da sua lancheira. Eu não caibo. Eu não quero caber. Eu não consigo mais me apequenar. Meus braços alçam voo no meu corpo que é infinito. Também já fui vento, sabia? 

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Eu sou poesia

 Meu amor... Não tente me entender prosa que você pode se perder em queda livre por entre emaranhados de combinações improváveis e incabíveis de palavras. Sou poesia.


Não me queira linear e racionalizável. Sou escrita automática brotando dos sonhos de um surrealista embriagado.

Não me queira ler em fatos despretensiosamente num domingo de manhã. Meus versos são livres e correm soltos num campo imagético sem padrões estabelecidos.

Não me queira pintura barroca, angelical e feita para apreciação de seus olhos. Sou dadaísta, e talvez você só enxergue um mictório se não souber ler atitudes.

O concreto que corre em minhas veias brota das ruas do caos. Dos meus pulmões envenenados por infindas toxinas jorram gritos de desespero inaudíveis aos parnasianos. Meu coração habita a deriva. Se quiser embarcar nesse navio ingovernável, entenda. Eu sou esse tipo de poesia.

Quase

 A poética do quase.

O beijo que quase aconteceu.

O amor que quase se concretizou.

A palavra que quase se apresentou.


A vida que poderia ter sido... Que tinha tanto potencial...


Mas morreu dormindo. De causa desconhecida.

quarta-feira, 22 de junho de 2022

O importante é carburar

     "Não importa a aparência. O importante é carburar".

    Apesar de destinada a meu tabaco ultra mal bolado do nascer do sol, essa frase serve para tantas outras circunstâncias... Relações por exemplos. Encontros. 

    Nossos corpos e almas se encontraram numa sequência de acontecimentos diversos sutilmente preparados pelo universo. E carburou. Na infinita noite de Itaúnas, no suor de nossos corpos no forró, na escuridão profunda do caminho que se fez infinito até as Dunas, nas luzes e galos da Bahia a nos convidar, no sangue pago aos tantos pernilongos para a vivência privilegiada do nascer do sol mais lindo, no vermelho vivo do sol se mostrando por entre as nuvens, combinado a tantas outras cores que sequer sabemos nomear. Carburou! E traguei feliz e grata esse tanto de vida que hei de carregar no corpo e na memória. 

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Lembrança de uma dança

     O suor a disfarçar meu corpo a derreter dentro dessa dança. Dissolver. Misturar-se a outra pele num movimento delicado, sutil. Movimento único de dois corpos a fundir-se. Já não sei o que é meu, o que é seu. Sou-te. Solta dentro de tão delicada fusão. Sinto indescritível liberdade enquanto sinto-me você, tocando minha própria pele... Ou seria a sua? 

    A saliva presa, contida, num desejo calado de provar do sal que brota desse corpo que são dois...

     Sua imagem é poesia! 

     Sua presença assusta esse coração arredio que pulsa junto ao seu ... Ou seria junto ao meu? 

     Não sei identificar esse desejo etéreo. Não consigo nomear.

     Faltam referências.

     Faltam palavras.

     Sobram sensações...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

O mar não está para caranguejo

    Em tempos de amores descartáveis, onde se abrigam os que muito sentem?
    Como os emocionados sobrevivem às relações deletáveis? 
    Paixões miojo, instantâneas, não saciáveis, não nutritivas, cheias de sódio e distâncias... Viver de gastrite afetiva não estava nos meus planos. 
    Endurecer a casca, afiar as garras e não deixar que ninguém se aproxime? Não sair da toca? Agir contra sua natureza para se adequar? Mas eu gosto tanto de ser-me... E ainda que não gostasse, como poderia eu não ser-me. Como pode qualquer pessoa não ser-se? 

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Como pode qualquer pessoa não ser-se...